Rita Ravasco
O meu trabalho é de tal modo variado que não me consigo apresentar só na ilustração ou só na pintura... Não consigo definir-me num único caminho das artes visuais. Tudo surge de vontades e conceitos que absorvo.
Considero-me uma artista visual, alguém que cria, que transforma...
No meu percurso artístico, passo pela ilustração, pintura, vídeo, desenho e escultura. As artes visuais oferecem-nos tantas possibilidades que é difícil adotar apenas uma.
Numa análise ao meu trabalho, não consigo encontrar uma identidade, mas sim diferentes formas de apresentar resultados. O meu processo criativo funciona como uma Fábrica, onde existem vários funcionários e cada um deles tem a sua linha - as peças são criadas por diferentes “eu”, artistas/operadores. Ainda que todos sejam diferentes, existe uma ligação entre si meio camuflada - fazem parte da mesma Fábrica. Este processo é algo que não é direto e só com uma leitura mais atenta se consegue reconhecer.
O “riscado” é um dos elementos que surge frequentemente no meu trabalho. Numa primeira impressão tudo parece um trabalho limpo, sem traços “fora do risco” ,mas se observarmos com atenção, vamos conseguir ver que não há nada de limpo ou direito. Existe uma grande diversidade de mancha, forma e traços, por vezes um riscado “agressivo”.
Além de desenho com meios riscadores, uso também objetos para a produção de imagens em que os elementos fazem parte do desenho ou o próprio desenho/pintura cria ou dá vida ao objecto. Também desenvolvo pequenas vitrines expositivas, agrupando e catalogando estes objetos. Todo o material é recuperado de feiras, de lojas de material em 2º mão, lixo e ferro velho. O que mais me agrada nestas recolhas é o aspecto que nos transporta para a história daquele objecto, somos guiados por um conjunto de ligações imaginárias entre a cultura material, a cultura visual e a forma através do qual recebemos determinada memória vinda dos objetos. Através destas recolhas, estes pequenos arquivos estão abertos ás interpretações do nosso íntimo.
Numa outra divisão desta Fábrica, encontro uma “sala” de mundos imaginários, criaturas e personagens que nascem do meu universo pessoal, como se eu própria criasse os meus próprios brinquedos, alguns deles ganham mesmo uma dimensão 3D, sob forma de escultura. A construção destas criaturas tem ligação com a infância, como se ao criar tivesse a construir uma coleção de figuras, remete para um espaço de tempo em que colecionava cromos ou mini figuras dos anos 90.
Um outro ponto importante no meu trabalho que, posso considerar outra área da Fábrica, são as cores. Podem
surgir conjuntos de cores vibrantes ou conjuntos de cores que resultam em tons “pardos”.
A escultura encontra-se num anexo que ainda está em fase de amadurecimento. As peças criadas são construídas com composições de diverso material, como os que referi anteriormente. Na maioria dos casos, estas composições têm como ponto de partida personagens que são construídas na “sala” de mundos imaginários. Todas estas divisões têm por base a experimentação, o testar coisas, correr riscos... Este é o principal foco da produção de tudo o que resulta desta Fábrica de Imagens.